O Evangelho de Mateus 12:9-11
- Fontes, Elias T.
- 6 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Saindo daquele lugar, dirigiu-se à sinagoga deles, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. Procurando um motivo para acusar Jesus, eles lhe perguntaram: “É permitido curar no sábado?” Ele lhes respondeu: “Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá”? Mateus 12:9-11
A passagem de Mateus 12:9-11 revela a profunda diferença entre a visão legalista dos líderes religiosos da época e o enfoque misericordioso e compassivo de Jesus. O questionamento que lhe é feito — “É permitido curar no sábado?” — reflete não uma preocupação com o bem-estar do ser humano, mas uma tentativa de flagrar Jesus em uma violação da Lei. Os fariseus e escribas estavam mais preocupados com as regras do que com as pessoas, ao passo que Jesus, como sempre, coloca o ser humano no centro da sua missão.
Pensamento
1. A Distância Entre a Letra e o Espírito da Lei:
A Lei do sábado tinha um propósito claro: proporcionar descanso e restauração ao homem, tanto física quanto espiritualmente. O que era um mandamento de amor e cuidado, com o passar dos séculos, foi sendo reinterpretado de forma cada vez mais rígida e desumanizada pelos líderes religiosos. Eles impuseram tantas restrições que a essência original do sábado, que era uma bênção, se tornou um fardo.
Ao perguntar se era permitido curar no sábado, os fariseus revelam sua completa falta de entendimento sobre o propósito de Deus. Eles veem o sábado como uma obrigação mecânica, enquanto Jesus, ao realizar curas e atos de compaixão nesse dia, revela que o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado (Marcos 2:27). O ponto central é que fazer o bem nunca deve ser restringido por normas legais. A Lei de Deus, quando corretamente entendida, nunca deve servir como um obstáculo para o amor e a compaixão.
2. A Cura como Ato de Misericórdia:
Jesus, ao confrontar os fariseus, usa uma ilustração prática e simples: "Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá?" (Mateus 12:11). Ele desvia a atenção do debate teórico e a coloca em um contexto real, cotidiano. Uma ovelha, um bem material, seria resgatada no sábado, mesmo que isso implicasse um esforço. Quanto mais, então, um ser humano, que é feito à imagem de Deus, merece ser ajudado, independentemente do dia da semana?
Este argumento desmascara a hipocrisia dos fariseus. Eles seguiam normas que permitiam salvar um bem material, mas restringiam a cura de uma pessoa. O que Jesus está deixando claro é que nenhuma regra religiosa pode suplantar a necessidade de demonstrar compaixão e misericórdia. O ser humano e sua necessidade de cura e restauração são mais importantes que qualquer código ritual.
3. A Frieza do Legalismo:
Jesus sempre olhou as pessoas em sua totalidade, com suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. O homem com a mão atrofiada, que estava presente na sinagoga, não era apenas uma oportunidade de Jesus provar um ponto teológico. Para Ele, aquela era uma vida real, um ser humano que precisava de cura. Os líderes religiosos, por outro lado, viam apenas uma oportunidade para criticar Jesus e manter suas regras intactas.
Aqui, somos alertados contra o perigo do legalismo. Quando começamos a focar excessivamente nas regras e nas doutrinas, corremos o risco de perder de vista o propósito maior do Evangelho: o amor ao próximo. Não adianta uma fé que obedece rigidamente à letra da Lei, mas que ignora o espírito de compaixão e misericórdia que a sustenta. A justiça de Deus não é fria nem impessoal, mas está sempre vinculada ao amor e à misericórdia.
4. Aplicação na Vida Cristã:
Quantas vezes, em nossos contextos religiosos, nos deparamos com debates e discussões que, à semelhança dos fariseus, perdem de vista a pessoa e focam apenas em regras e interpretações? Jesus nos convida a olhar com os olhos da misericórdia, a colocar o ser humano e suas necessidades acima de qualquer debate teológico.
Em vez de usarmos a fé para julgar ou excluir, somos chamados a usá-la como uma ferramenta de restauração e cura. Em cada situação de conflito ou dúvida, devemos nos perguntar: "O que Jesus faria? Como Ele enxergaria essa pessoa ou essa situação?". Quando fazemos essa pergunta com sinceridade, muitas vezes perceberemos que nossa resposta deve ser muito mais baseada no amor e na compaixão do que na simples observância de normas.
5. Jesus, o Intérprete dos Intérpretes:
A oração final do pensamento é muito significativa. Ela destaca Jesus como "o Intérprete dos intérpretes", ou seja, Aquele que verdadeiramente revela o sentido e o propósito da Lei. Os fariseus e escribas, apesar de terem um vasto conhecimento das Escrituras, não conseguiram entender o coração da Lei: o amor a Deus e ao próximo. Jesus, por outro lado, viveu e ensinou a verdadeira essência da Lei divina.
Nossa interpretação das Escrituras deve sempre passar pela lente de Jesus. Ele é o ponto central da revelação de Deus e, portanto, nossas ações, pensamentos e decisões devem ser filtradas por Seu exemplo de vida. Em situações de dúvida, devemos buscar orientação não apenas nos textos bíblicos, mas também na pessoa de Jesus, que nos ensina a agir com compaixão, graça e misericórdia.
Oração
Deus Pai, pedimos Tua sabedoria para entender e aplicar a Tua Palavra de forma que ela nos aproxime de Ti e nos ensine a amar mais o nosso próximo. Que, assim como Jesus, possamos enxergar as pessoas em suas necessidades e não apenas nos perder em debates e discussões teológicas. Ajuda-nos a sermos instrumentos de Tua misericórdia, sempre prontos a curar e restaurar, assim como o Teu Filho fez. Em nome de Jesus, nosso Mestre e Salvador, amém.
O desafio de Mateus 12:9-11 é simples, mas profundo: colocar as pessoas acima de regras e debates. Jesus nos ensina que o verdadeiro cumprimento da Lei está em amar e cuidar uns dos outros, especialmente em momentos de necessidade. É assim que devemos viver e praticar nossa fé, com os olhos e o coração de Jesus.
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