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As Correntes Invisíveis: Lidando com os Traumas Transgeracionais à Luz da Fé e da Psicanálise


Por: Carlos Henrique Müller Filho




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Vivemos, muitas vezes, prisioneiros de histórias que não escrevemos, mas que nos atravessam com força e impacto. O avanço das ciências da mente e da alma, especialmente com autores como Mark Wolynn em sua obra "Não Começou com Você", tem revelado que comportamentos autodestrutivos, medos irracionais ou repetições de fracassos podem ter raízes muito além da biografia individual — podem estar inscritos na memória transgeracional da família.


Como teólogo e psicanalista, reconheço a importância de integrar a sabedoria milenar das Escrituras com os conhecimentos contemporâneos da psicanálise. Essa integração nos permite entender que muitos sofrimentos não elaborados, vivenciados por antepassados, podem ser transmitidos por gerações, como lealdades invisíveis que moldam inconscientemente nossas escolhas.


Um caso comum, e que me toca particularmente por sua recorrência pastoral, é o de pessoas que trabalham arduamente — algumas em dois empregos — mas que, ao receberem seu salário, gastam tudo em compras desnecessárias ou em generosidade extrema com os outros. Esse ciclo gera frustração, sensação de impotência e angústia. Ao olhar apenas com os olhos da racionalidade, poderíamos julgar como má administração financeira. Mas a psicanálise e a fé nos convidam a enxergar além: o que está por trás desse padrão?


Muitas vezes, esse comportamento pode ser uma tentativa inconsciente de reparação de uma história familiar marcada por escassez, abandono ou humilhação. Gastar para os outros pode ser uma forma inconsciente de expiação. Sabotar a própria prosperidade pode ser uma forma silenciosa de permanecer leal a um ancestral que nunca pôde viver em abundância. Como afirma Wolynn, há dores que se alojam na alma familiar, aguardando reconhecimento e redenção.


Diante disso, é urgente um trabalho de resgate e ressignificação. A psicanálise oferece caminhos para trazer à consciência esses conteúdos inconscientes. A teologia pastoral, por sua vez, aponta para a cura através do reconhecimento da dor, da oração intercessora e da entrega dessas histórias ao Cristo redentor, que cura nossas memórias.


Como pastores e conselheiros, devemos acolher essas repetições como expressões do sofrimento e não apenas como falhas morais. O cuidado com a alma passa por ouvir a dor que ecoa da história e oferecer um espaço seguro onde a graça pode transformar culpa em redenção.


Convido você, leitor, a refletir sobre sua história e sobre as histórias que lhe atravessam. Que feridas você carrega que talvez não sejam suas? Que comportamentos você repete sem saber de onde vêm? O Senhor Jesus pode visitar o passado familiar, curar traumas ocultos e restaurar aquilo que foi perdido. É Ele quem diz: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21.5).


Que esse artigo seja para você um sopro de esperança e um chamado à reflexão. Se você desejar aprofundar essa caminhada, busque ajuda espiritual e terapêutica. Curar-se é também um ato de amor pelas gerações futuras.


Oremos juntos: "Senhor, revela-me as dores que carrego e que não me pertencem. Cura a história da minha família. Liberta-me das correntes invisíveis do passado. Amém."


Com amor pastoral,

Carlos Henrique Müller Filho

 
 
 

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